“Duna”, de Frank Herbert, é um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica. Eu costumo usar essa expressão (“um dos maiores clássicos…”) para muita coisa, e, no mesmo esquema de “Pedro e o Lobo”, às vezes ninguém acredita quando é verdade.
Mas acreditem em mim, “Duna” é incrível!
Adaptações
Tão incrível que, desde seu lançamento, em 1965, sempre se considerou uma adaptação do livro para o cinema. Pelas minhas contas (não sou um especialista) foram três tentativas. Uma bem-sucedida e duas fracassadas.
A bem-sucedida é a de 1984, dirigida por David Lynch e estrelando Kyle MacLachlan, Patrick Stewart e Sting. Um filme estranho/cafona/ruim e ao mesmo tempo um clássico.
As duas tentativas fracassadas são de 2011, pela Paramount, e de 1973, do brilhante Alejandro Jodorowsky.
O filme de Jodorowsky seria tão fantástico que merece um post próprio. Em 2013 foi lançado o documentário “Jodorowsky’s Dune”, que eu não poderia recomendar mais.
“Duna” também foi adaptado para a TV em 2000, uma boa minissérie para o canal Sci Fi (hoje Syfy) com William Hurt e Ian McNeice, e para diversos jogos de videogame. Resta a Duna, portanto, um único formato a ser explorado. A animação. E a depender do esforço do ilustrador Matt Rhodes, essa realidade já está um pouco mais próxima de nós.
Um não-desenho
Rhodes, um dos principais ilustradores do excelente jogo “Dragon Age: Inquisition”, publicou recentemente em seu portfólio uma série de estudos dos personagens de “Duna”, e o resultado é espetacular. Uma mistura maravilhosa entre o traço dos desenhos do Stúdio Ghibli, de “A Viagem de Chihiro”, e quadrinhos franceses como “O Gato do Rabino”.
Abaixo, estão cada uma das facções da história. Recomendo clicar nas imagens para vê-las no tamanho original..
Mocinhos
Segundo Rhodes, o conceito por trás dos Atreides de Caladan, casa que assume o controle do planeta desértico Arrakis, é que eles viviam em um lugar com água em abundância. Gerações e gerações de pessoas vivendo em um verdadeiro paraíso tropical.
Gurney Hawat, o guerreiro trovador interpretado por Patrick Stewart na versão de David Lynch, é o meu preferido. Os detalhes da roupa e a elasticidade do seu rosto combinam perfeitamente com o personagem.
Bandidos
Todos os personagem são absolutamente fiéis às descrições do livro. Da opulência obesa do barão Harkonnen à paranóia do imperador Shaddam, Rhodes consegue transformar cada um deles em uma representação tanto física quanto psicológica de suas personalidades.
Vale destacar a bela concepção de Feyd-Rautha. Fã da adaptação lynchiana, ele é praticamente uma versão sexy do Sting de 1984..
Índios
Os Fremen, povo nativo de Arrakis, têm clara inspiração moura. A aridez do planeta os força a medidas extremas de utilização da água. Após a morte de um membro da tribo, por exemplo, seu corpo é desidratado e a água posta novamente em circulação. O líquido é precioso e usado como moeda em relações comerciais.
Muad’Dib, o guerreiro lendário no qual Paul Atreides se transforma, lembra um pouco a personagem Sheik, de “The Lengend of Zelda”.
Mão na massa
Matt Rhodes explica em seu portfólio que gostaria de ver seus desenhos usados em outra adaptação “live action” do livro e sugere o diretor indiano Tarsem Singh, de “A Cela” (2000), para a empreitada. Discordo. O tempo de “Duna” nas telonas já passou, e a chegada dos novos Star Wars pretende saturar o mundo com óperas espaciais.
Um trabalho tão bonito e meticuloso merece uma série animada própria. Na mão de um produtor competente, como Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, de “A Lenda de Korra”, a série seria um sucesso absoluto.
Imaginem… Seria lindo! Já posso até imaginar os créditos de abertura.
Que a Força, e um pouco de Tempero, estejam com vocês.