Com apenas duas semanas de exibição e já com mais de 1 bilhão de dólares de bilheteria (e você sonhando com seis milhõezinhos da Mega Sena), não espanta o fato de “Star Wars: O Despertar da Força” ser assunto nas rodas de conversa de muita gente.
Engraçado, emotivo e inteligente, é praticamente impossível sair de suas sessões sem ouvir comentários, dúvidas e teorias malucas sobre cada uma das centenas de referências aos três primeiros filmes da série. Um dos mais comentados é a paternidade de Rey, a catadora de reciclável do planeta Jakku.
Não fosse Star Wars uma grande maluquice com direito a princesas, fantasmas, pseudo-proto-incestos e robôs homicidas (não era essa a trama da última novela da Glória Perez?), ninguém estaria preocupado com isso. Mas sendo Star Wars… bem, Star Wars, seguem minhas considerações sobre o teste de DNA da personagem.
Para mim, a probabilidade de Rey ser filha de Han e Leia é uma das menores dentre todas as hipóteses possíveis. Não existe uma linha de diálogo, um olhar estranho, um enquadramento maluco… nada que indique que, fora Ben Solo-Organa (sei lá o sobrenome dele), Leia tenha tido outro filho.
Afirmações como “Han e Rey falam as mesmas coisas, ao mesmo tempo” ou “ela já sabia pilotar a Millennium Falcon”, são completamente sem pé nem cabeça e não provam nada. Seria como afirmar que toda mulher que se sente enjoada está grávida. Sim, Star Wars é um grande novelão, mas não foi o Manuel Carlos quem escreveu.
Han e Leia sofrem com a loucura de Ben e sua traição foi tão pesada que não só separou o casal, como fez Luke se isolar do mundo. Faria sentido eles simplesmente ignorarem a existência de uma filha?
Além disso, como me alertou o leitor Gui Martins pelo Facebook, se Leia tivesse escondido a filha em Jakku, existiria algum tipo de cuidador por perto, como os tios de Luke em “Uma Nova Esperança”. Seria Lor San Tekka (Max von Sydow) uma espécie de guardião da menina ao estilo de Obi-Wan Kenobi? Pouco provável. Ele parece estar em Jakku mais para esconder o mapa que leva à Luke do que para vigiar a menina.
Como vimos na sequência da “visão da Força” na cantina de Maz Kanata, Rey foi deixada em Jakku com idade suficiente para se lembrar dos pais e, aparentemente, vendida para Unkar Plutt como trabalhadora braçal. Seu reencontro com Han e Leia não passaria batido desse jeito.
A hipótese mais explícita para a paternidade de Rey aponta para Luke Skywalker e isso se dá mais pelo fascínio da personagem pelas lendas de seu tempo do que qualquer outra coisa.
Abandonada pela família em um ferro-velho e obrigada a tirar seu ganha pão dos destroços do conflito entre o Império e a Aliança Rebelde, nada mais natural do que nutrir algum tipo de fantasia pela época. Rey não só mora dentro de um AT-AT, como tem o capacete e o um boneco de pano de um piloto rebelde. Ela é a personificação do fã que não havia nascido em 1977, não da filha do Mark Hamill.
É lindo ver seu rosto abrir um sorriso, uma mistura de alegria e incredulidade, quando ela conhece alguns de seus “ídolos”. Isso acontece não só quando Finn menciona Luke Skywalker, como também quando ela conhece Han Solo e descobre estar a bordo da Millennium Falcon.
Como o paradeiro de Luke é o grande motor da história (e é ela quem o encontra!), o histórico familiar de Star Wars engana nossos sentidos. Lawrence Kasdan e J.J. Abrams, que escreveram o roteiro do filme, são espertos e sabem que estamos todos esperando por um momento “Eu sou seu pai” no episódio 8. Exatamente por isso não vamos receber.
Sejamos realistas, Rey ser filha de Luke ou Leia seria extremamente brochante para todas as crianças da galáxia que sonham um dia se tornarem Cavaleiros Jedi.
Em “Uma Nova Esperança” (1977), anos antes da revelação freudiana de que Luke é filho de Darth Vader em “O Império Contra-ataca” (1980), e muito antes de toda aquela bobagem do nascimento virginal de Anakin Skywalker em “A Ameaça Fantasma” (1999), a graça de Star Wars era que qualquer um poderia ser um Jedi. Não existia essa história de linhagem, destino ou Midi-Chlorians envolvidos.
Embora a obsessão de Kylo Ren em seguir os passos do avô, Darth Vader, seja uma clara indicação da continuação do drama familiar na série, o mesmo não pode ser dito sobre a hereditariedade da Força (vide a surra que ele leva na Base Starkiller).
Na minha opinião, a prova do não-vinculo sanguíneo de Rey com o restante da Trilogia Original está em um diálogo entre ela e Maz Kanata, logo após a sequência da “visão da Força”.
Pouco depois de confrontar a menina sobre seu abandono pelo pais, Maz diz à menina: “Não há nada que você possa fazer sobre seu passado, mas você pode fazer algo sobre seu futuro. Vá encontrar Luke.”, em citação aproximada.
Se Han fosse o pai de Rey, por que Maz tiraria da menina qualquer esperança de rever sua família? Eles chegaram juntos a sua cantina, afinal. Pela mesma linha de raciocínio, por que Maz falaria isso e logo em seguida mandaria a menina procurar Luke? Porque ela está recomendando que ela busque por um mestre, não pelo pai, ora.
Minha conclusão é que Rey não é filha de alguém que conhecemos. Sua personagem, além de representar todos os fãs que amam a série sem nunca terem experimentado o impacto do seu lançamento nos anos 1970, também serve para redemocratizar o uso da Força. Um tipo de reforma agrária Jedi para que ela esteja conosco, não só entre meia dúzia de Skywalkers.
E então, o que acharam? Concordam, discordam, me odeiam… Deixem seu comentário abaixo ou na página do Facebook do Surto Nerd.